1936: As Olimpíadas de Berlim e a Resistência Antifascista

Os Jogos Olímpicos de 1936, realizados em Berlim, ocorreram no auge do Nazifascismo. Adolf Hitler aproveitou o evento como uma oportunidade para promover a ideologia de superioridade racial ariana. Contudo, o atleta afro-americano Jesse Owens desafiou essa narrativa ao conquistar quatro medalhas de ouro, desmentindo a supremacia racial defendida pelo líder nazista, tornando assim um símbolo de resistência antifascista. Além disso, o regime enfrentou um boicote parcial, especialmente por parte de judeus, que protestaram contra o crescente antissemitismo. Esse movimento refletiu a resistência internacional às políticas discriminatórias de Hitler, evidenciando as tensões políticas da época.

Na Grécia Antiga, durante o período clássico, surgiram os jogos pan-helênicos, celebrados a cada quatro anos por atletas de cidades como Atenas e Esparta. A cidade de Olímpia, que deu origem ao nome “Olimpíadas”, era o palco dessas competições. Apesar da enorme tradição e do zelo que as cercavam, no século IV, os jogos perderam força. O imperador da época os considerava pagãos, o que contribuiu para seu declínio. Após 15 séculos, os Jogos Olímpicos foram retomados em 1896, na Grécia, preservando suas tradições. Hoje, eles se consolidaram como o maior evento do planeta, sendo o único capaz de reunir delegações de mais de 200 países em uma mesma cidade. Neste artigo, porém, o foco será um recorte do período entre guerras, marcado pelo auge de ideologias de extrema direita, como o Nazismo e o Fascismo, na Europa.

O contexto dos Jogos Olímpicos passou por uma transformação significativa nas décadas seguintes à sua retomada moderna, especialmente a partir da década de 1930, quando política e ideologia começaram a moldar não apenas a vida das populações europeia e mundial, mas também o próprio espírito do esporte. Até então celebrados como um espaço de amizade, união internacional e competição saudável, os Jogos ganharam uma nova dinâmica com a ascensão do Nazifascismo na Europa. Esse período, marcado por tensões crescentes no intervalo entre as duas guerras mundiais, viu o esporte ser apropriado como ferramenta de poder, com os Jogos Olímpicos de 1936, sediados em Berlim, tornando-se um exemplo emblemático dessa mudança.

Com Adolf Hitler no comando da Alemanha, os Jogos de Berlim foram cuidadosamente planejados para servir como uma poderosa plataforma de propaganda nazista. O regime investiu maciçamente em infraestrutura — como a construção de estádios imponentes — e em cerimônias grandiosas, buscando projetar uma imagem de eficiência, grandeza e suposta superioridade da raça ariana. Mais do que um evento esportivo, as Olimpíadas de 1936 foram usadas para mascarar as políticas repressivas e discriminatórias do Nazismo, promovendo uma visão distorcida da Alemanha que visava melhorar sua reputação internacional. Esse uso explícito do esporte como instrumento político destacou uma ruptura com os ideais olímpicos tradicionais, evidenciando como os Jogos poderiam ser manipulados para fins ideológicos.

Como forma de resistência ao avanço do fascismo e ao uso propagandístico dos Jogos de Berlim, foi organizada em 1936 as Olimpíadas Populares em Barcelona, na Espanha, um evento alternativo que reuniu atletas e trabalhadores de diversos países sob o lema da solidariedade e da luta antifascista. Idealizadas por movimentos operários e de esquerda, essas Olimpíadas buscavam contrapor os ideais de igualdade e fraternidade ao discurso de superioridade racial e militarismo promovido pelo Nazismo. Embora o evento tenha sido cancelado devido ao início da Guerra Civil Espanhola, sua proposta simbolizou um grito de oposição às manipulações políticas do esporte, reforçando a ideia de que as competições poderiam ser um espaço de união e protesto contra a opressão.

Assim, o período entre guerras consolidou os Jogos Olímpicos como uma arena onde esporte, poder e ideologia se entrelaçavam de maneira complexa. Os Jogos de Berlim de 1936 deixaram um legado ambíguo: por um lado, demonstraram como o esporte pode ser instrumentalizado por agendas políticas; por outro, mostraram sua capacidade de transcender opressão e afirmar valores universais. Esses eventos desencadearam reflexões duradouras sobre o papel das Olimpíadas em tempos de conflito, debates que continuam a ecoar na história do movimento olímpico.

É amplamente reconhecido que a extrema direita possui uma forte inclinação racista. Nesse sentido, Adolf Hitler planejava usar os Jogos de Berlim para reforçar a ideia de que a “raça” ariana era superior. No entanto, seus planos foram frustrados por Jesse Owens, um estadunidense afrodescendente que se destacou de maneira histórica. Owens tornou-se o atleta mais bem-sucedido da competição ao conquistar quatro medalhas de ouro – nos 100m, 200m, revezamento 4x100m e salto em distância –, estabelecendo um recorde que perdurou por 48 anos, desmentindo publicamente a teoria de superioridade racial defendida pelo regime. Esse feito não apenas expôs as contradições entre os ideais olímpicos de igualdade e as práticas discriminatórias do Nazismo, mas também reforçou o potencial do esporte como símbolo de triunfo humano e contestação.

Outro fato marcante dessa Olimpíada foi o boicote promovido por judeus. O antissemitismo, que ganhava força na sociedade alemã desde a década de 1920, intensificou-se após a ascensão de Hitler ao poder em 1933. O regime nazista sistematizou o ódio contra os judeus, resultando na morte de milhões durante o Holocausto. Durante os Jogos, os nazistas tentaram minimizar a visibilidade de sua ideologia antissemita, buscando projetar uma imagem de hospitalidade e inclusão. Contudo, o boicote judaico revelou a crescente tensão internacional em relação às políticas discriminatórias do nazismo, especialmente contra os judeus. A participação de atletas judeus foi limitada: alguns se retiraram em protesto às condições políticas, enquanto outros foram pressionados a não competir ou a não representar a Alemanha. Esse movimento marcou um dos primeiros sinais de resistência política aos Jogos de Berlim.

Esses episódios demonstram como a propaganda política e ideológica se faz presente em diversas esferas, seja em Jogos Olímpicos, na posse de um presidente com gestos controversos ou nas redes sociais. Diante disso, torna-se essencial analisar criticamente o conteúdo que consumimos. Essa reflexão é fundamental para evitar que a história se repita, seja como farsa, seja como tragédia.

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